Pérolas...que se encontra ao
longo da vida... São raras. Tantas e tantas histórias incontadas!
Amanheceres construídos com as próprias mãos... Tintas que ninguém
previu. Tive todo meu dia tomado pelo e-mail que você mandou!
Só
o que posso te dizer é que me fortalece, como talvez já tenha
dito antes. O fato de ler sua mensagem logo cedo, 5:30 da manhã
foi um presente dos mais lindos.
Quarta
é um dia em que tenho um trabalho que faço em Jerusalém. Acordo
cedo para ter tempo hábil de começar meu dia numa nota alta. Uma
meditação longa de 30 minutos. Ao longo do dia faço mais algumas
pequenas sessões. É parte da prática. E o dia todo uma prática
também. Não faria sentido se não o fosse!
Passei
quatro horas sozinho fazendo minhas comidas com o sentimento
totalmente voltado em Araraquara.
Você
menciona que não conhece Israel! Pois agora há mais de mil motivos
para vir e conhecer! A gente precisa planejar isso bem para aproveitar o máximo.
Não
tem muito tempo que cheguei aqui. As coisas foram se desenhando de
uma forma mágica. Como a casa em que moramos agora e que foi um
achado, por exemplo. Chegamos em Abril, 19 Dia do Índio, para
procurar residência e tínhamos metade daquele mês mais maio inteiro para
encontrar um lugar que fosse conveniente. Ficamos então num pequeno
apartamento numa vila de casas próximo daqui. Na primeira ligação
que fizemos ao ver lugares para alugar em Jerusalém e Ein
Karem, encontramos essa. Bárbara. Uma casa árabe. Provavelmente
construída antes de 1948. Longa, retangular, com o teto da sala
abobadado e as paredes da cozinha em pedra. Estou mandando umas fotos
para você ver.
Há
outra casa em cima da nossa. Nela mora Mihal Ben Gal, viúva de
Yussef Ben Gal, um poeta que agitou a vida cultural daqui nos anos 60
e 70 até se deparar com o trabalho de Gurdjieff e as ideias do
Sufismo. Ele manteve onde hoje moramos, grupos de estudo sobre essas
'filosofias'. Mihal nasceu num kibutz ao norte de Israel em 1942.
Seus avós vieram para cá no que eles chamam o segundo 'aliá', o
começo da imigração judaica para a Palestina de então. Esses
judeus da época começaram a viver em comunidades, em lugares pouco
explorados e condições precárias. Os judeus que vêm dos
'kibutzim' têm uma forma de viver e pensar completamente distinta. Há algo diferente no comportamento deles. A vida em comunidade cria algo muito legítimo, assim como o fato de as mulheres servirem exército por dois anos e os homens três influi muito no sentimento de nacionalidade. Isso é tanto inteligente quanto necessário na cultura israelense. Mas esse é um assunto muito longo! Mihal é maravilhosa. Uma mulher de 71
anos ligadíssima. Trabalhou na chefia do setor de Arqueologia da
Fundação Rockefeller por mais de trinta anos. Ela participou também
de muitos projetos externos em escavações. Tanta história tem para
contar! O mais lindo é que ela editou um livro póstumo com as
poesias de Yussef. Ele tinha cinco livros publicados em vida. São
poesias espirituais, de uma luta contra Deus. Ao final
ele amansou. Fez as pazes com o Velho. São esses poemas que Mihal
compilou e publicou. Só ela sabe o doze que cortou com ele. Eles
tiveram um filho, Asaf. Ele morou aqui nesta casa com Karem,sua linda
esposa e seu filho, Ilay, um menino cujo semblante me lembra muito a
criança que fui um dia. Mas eu vejo nele muito da expressão de seu avô.
Yussef Ben Gal lembrava um pouco Ernest Hemingway. Mihal
concorda. Teria com certeza gostado muito de Yussef se o
tivesse conhecido.
Dou-me
muito bem com ela, apesar do pouco tempo que temos como vizinhos.
Conversamos muito. Ás vezes jantamos no nosso jardim. Ela gosta
muito da minha comida. Como você vê, há um material imenso aqui
para conhecer. Mihal é um grande e imprescindível detalhe. Não sei
realmente por onde começar a contar tudo.
Nós
temos também um apartamento em Herzilyia, perto de Tel-Aviv. Está
alugado, já que até então morávamos no Brasil. Mas não temos
planos de nos mudar para lá. O contrato de nossa locatária vence
agora em dezembro. Nossa vida parece realmente se encaixar aqui.
Estou farto de cidade! Vejo que minha mentalidade cosmopolita me faz
sentir um estranho dentro do terno do dia a dia muitas vezes, como se
o defunto fosse maior. O fato é que o palhaço era meu tio. Ele me
ensinou a construir o picadeiro, vender pipocas e depois dispor as
cadeiras e fazer o show, como escrevi certa vez num velho poema.
Tenho receio de
elaborar um tratado e esbarrar em seu enigma de esfinge, em seu
silencio de tantos anos... Para mim é a maior referência, o
grande arquétipo de iluminação, o maior exemplo de como um grande
trabalho pode ser efetuado sem ruídos. O que sou hoje, esse
resultado desconhecido mas constante, não ocupado com o improvável,
esse pequeno sol de alma que criei, tudo isso devo à pedra de toque
que foi e é para mim. Todos os reencontros foram para
mim eventos marcantes. Sinceramente, não sei se está ao meu alcance
esse merecimento.
Mas
só o fato de poder falar isso tudo com você, de poder compartilhar
este momento, para mim é como estar eternamente de férias. Uma
bênção que reflete faíscas aos coriscos.
A
Mahamudra é um artigo para uma nova correspondência! Eu gostaria
realmente de falar de forma intencional a respeito.
Copiei
uma foto de Dan Brown em 'minhas imagens' pensando em mandar-lhe.
Segue nesta. Foi tirada no primeiro retiro que fiz com ele em 2011.
Quando estava batendo essa foto ele me disse: "Pense em
Dharmakaya".
Achei
maravilhoso você estar praticando Yoga com esse envolvimento. Você
seria uma instrutora muito interessante, para dizer o mínimo.
Por
que não? Mas tome seu tempo. No entanto, considere. Eu mesmo
gostaria de ter uma professora como você. Faria minha cabeça!
Grande
Amiga, fique com todo meu Amor. Escreva. Me conte coisas. Obrigado
por essa luz. Todos precisamos. Ainda bem termos uns aos outros. Seu
no Dharma. Sempre. C.
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