Jackson Pollock
Nada do que você me escreveu, Chella, eu tinha realmente ciência. Seu conhecimento sobre Cinema é bárbaro. E como você mesma disse, algo que ama de paixão! Quando isso acontece, a gente é tomado por uma eloquência que de modo geral achamos que nos escapa. Falta-me mesmo é tempo para poder ver tanta coisa no monitor. Cinema é para mim uma das artes mais interessantes hoje em dia. A menos pretensiosa, ainda que haja uma indústria inevitável e mafiosa por trás dela. Leis de um planeta insólito! Tudo o mais me soa ridículo. Música moderna, artes plásticas, teatro, enfim, Chella, não acho necessário tanto up to date assim como o mundo pinta. Para mim, acho que para nós, não é?, essa preocupação em criar uma estética ultra moderna é ilusória...
Certas coisas têm o poder de tocar a alma de forma muito especial. Rumi, Guimarães Rosa, Fernando Pessoa, Hafiz... E claro, Shakespeare, Rilke, Goethe, Blake, Whitman, Kabir, Sanai...a lista de homens santos é grande! Afortunadamente!
A Arte Moderna supra-valorizou a apologia do horror. Vejo muito mais arte num tapete caucasiano feito manualmente há duzentos anos do que em toda essa papagaiada que anda pelos museus afora. Os maiores ainda são os mesmos. Leonardo, Rembrandt, Klimt, Vlaminck, Van Gogh...
O Cinema tem um grande diferencial, ele é uma arte de entretenimento, que depende do gosto popular e não da nata de grã-pensadores que irá discernir o correto do incorreto. De uma coisa estou certo, Cinema é uma arte que toca diretamente o coração das pessoas e não o que a cabeça delas pensa ser corretamente moderno. A capacidade de transmissão pictórica que ele oferece é assombrosa. Com tudo isso a Arte Cinematográfica vem a ser um veículo estupendo de formação de opinião. Seu poder positivo de influenciar é imenso. Acho, por exemplo, que a longa série de filmes tratando de culinária como resgate ou vínculo para maiores sentidos, desde o pioneiro "A Festa de Babbete", passando por "Como água para chocolate", Comer, Beber, Viver" e outros tão ou mais maravilhosos, contribuíram de forma decisiva para divulgar a culinária e o mundo da alta gastronomia como uma arte por excelência acessível a todos, não somente aos mais privilegiados. Mais que isso ainda, poderia afirmar que o Cinema é um fenômeno cultural de massa tão ou até mais importante que o rock'n'roll. A cultura do rock está morta. A do Cinema não. Não há um grupo determinante de rock. Só lixo! A Arte Cinematográfica continua a surpreender positivamente. Tem um poder espiritualizante. A gente precisa mesmo é de sublimação, não é mesmo, Sagrada Irmã? Se a Arte perder a conexão com o espírito, com a alma, tudo ficará calcado em construção estética, pensamento lógico. A gente está mais é atrás do pensamento psicológico, que fala ao espírito. Isso faz grande diferença.
Estou ouvindo neste momento música árabe numa rádio daqui. Adoro a música desse povo. Ela tem entranhas, vísceras, alegria e entrega.
Tenho visto alguns filmes sobre pintores que uma amiga (a Andrea) downloaded pra mim. Gostei demais de um sobre Goya. "Goya's Ghosts". Quanta dificuldade para fazer Arte na época em que ele viveu, numa Espanha caótica dominada pela Inquisição. Ainda preciso terminar de assistir um que comecei sobre Jackson Pollock, um pintor americano dos anos 40-50.
Pollock era um atormentado. Com uma alma que não cabia em si, tão grande quanto a de Van Gogh. Criou uma pintura legítima e belíssima, oriunda da sua febre instintiva e brutal. Mas caoticamente harmônico. É um dos poucos artistas contemporâneos que realmente chama minha atenção. Sua inteligente mulher, Lee Krasner (sem ela Pollock seria nada) também é muito interessante. Lembrei-me agora de Lucian Freud, outro digno de nota!
O tempo corrói coisas que entre eu e vocês jamais se enferrujou. Talvez seja uma questão de confiança, de quais níveis de vínculos de alguma forma especial e inexplicável se conectem .
Compartilhamos, eu penso, o pão e o vinho, Chella! Transubstanciação. Consubstancial! Talvez sejam os termos mais apropriados para nossa aura que esparge cheiro de laranja nos finais de tarde cujo por de sol só nos sabemos a cor. A poesia dos flamboyants incendiando as ruas e a cumplicidade do sorriso e da dor conjuntas... Entre nós, mesmo os mais queridos que já se foram, ainda estão presentes. Tão em nós estão! Mas isso não se explica, vive-se! Eucaristia pura.
A neve finalmente derreteu-se. Os cactos ainda estão bravamente firmes. Parece que nada lhes aconteceu. Algumas plantas definitivamente morreram. Seria um milagre com a forte nevasca que caiu. Havia previsões de que ela seria tão forte como a de 1917. Foi pior ainda. Pobres flores... Porém, a íris roxa está novamente a florir! Quem a viu, sucumbindo sob a crosta de gelo, não poderia supor.
Tenho muito a lhe dizer. Os Fados das Tormentas vagando ao meu redor! Os dias tomados de gente ao meu redor não têm permitido muita paz para que me sente integralmente a escrever-lhe. Escrevo mais. Todo Amor, Irmã Querida, um Feliz Novo Ano! Que nos vejamos neste 2014, é tudo que espero! Seu. No Dharma. C.
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