13.12.13
Tênue, firme e precisa,
a neve cai sobre Jerusalém há dois dias impiedosamente, assim como
as mãos dos deuses.
Não há eletricidade.
São 17:00 hs e estou à luz de velas. Já está escuro. As estradas
para Jerusalém estão fechadas. Não há comida quente porque meu
fogão é elétrico. Dentro de casa a temperatura talvez esteja a
10°.
O peso do gelo derrubou um grande galho do limoeiro siciliano no
jardim.
As
flores estão cobertas pela
neve.
A
sensual e formosa íris roxa curva-se agora
nas pedras do canteiro, submissa como uma odalisca escravizada pelo gelo sobre ela. Um
modelo tenro de resignação. Nenhuma palavra. Nenhum gemido. Lilás transparência terrena sob um destino divino imaculado e inevitável. Vida.
Mas
meu coração sutil não pode deixar de contemplar o quanto a alma
branca da neve que cai, carrega
consigo o poder que sua beleza destruidora oculta como um véu para recomeços.
Nada
termina. A sabedoria e a
flexibilidade da Natureza
trazem em seu íntimo
orgânico a mesma inteligência que reconheci uma vez nas colossais
montanhas de pedra em Yosemite: o quanto o Todo é impassível à
nossa parcialização do tempo...
“Tal
é a impermanência, tal é o caráter efêmero, a pouca solidez de
tudo o que é construído." Buda
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