sábado, 14 de dezembro de 2013

Haikai




13.12.13

Tênue, firme e precisa, a neve cai sobre Jerusalém há dois dias impiedosamente, assim como as mãos dos deuses.
Não há eletricidade. São 17:00 hs e estou à luz de velas. Já está escuro. As estradas para Jerusalém estão fechadas. Não há comida quente porque meu fogão é elétrico. Dentro de casa a temperatura talvez esteja a 10°. O peso do gelo derrubou um grande galho do limoeiro siciliano no jardim.
As flores estão cobertas pela neve.
A sensual e formosa íris roxa curva-se agora nas pedras do canteiro, submissa como uma odalisca escravizada pelo gelo sobre ela. Um modelo tenro de resignação. Nenhuma palavra. Nenhum gemido. Lilás transparência terrena sob um destino divino imaculado e inevitável. Vida.
Mas meu coração sutil não pode deixar de contemplar o quanto a alma branca da neve que cai,  carrega consigo o poder que sua beleza destruidora oculta como um véu para recomeços.
Nada termina. A sabedoria e a flexibilidade da Natureza trazem em seu íntimo orgânico a mesma inteligência que reconheci uma vez nas colossais montanhas de pedra em Yosemite: o quanto o Todo é impassível à nossa parcialização do tempo...
Tal é a impermanência, tal é o caráter efêmero, a pouca solidez de tudo o que é construído." Buda
                                                                                                                                    









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