segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Ginga de preto


Ein Karem, 15.12.13

Bela íris que se foi. Olhei para ela hoje, ainda sucumbida pelo peso do gelo imparcial sobre sua vivacidade lilás arroxeada de fim. Destino de uma flor... Assim como o destino de sua grande e querida amiga que sucumbiu à quimioterapia. Acima de toda dor há um olhar dos deuses.
Três rosas amarelas sobreviveram, porém, reféns dentro de um vaso sobre minha mesa. Eu as colhera alguns dias antes. Há um botão de rosa no jardim. Criança solitária que não abriu seus olhos de pétalas para o frio ao redor. Um dia ele será príncipe num mundo em reconstrução. Não sei o que aconteceu com Frida Kahlo's Cactus Garden.
O alecrim, no entanto, resiste como toda planta de poder. É assim. Não é o primeiro jardim que desaparece perante meus olhos. Outros jardins também se foram, ser flores em outras atmosferas mais rarefeitas que esta, sujeita ainda a Oxigênio, Carbono e Hidrogênio.
Nós também iremos de tapete voador para outros jardins! Tratemos de ser agora as mais belas flores, de extrair da nossa clorofila as mais belas cores e seus possíveis matizes. Os perfumes e as essências virão confirmar o enredo.
Vi meu jardim agonizar na aridez do último verão e agora o novo inverno me apresenta um novo quadro de regeneração. Mudam os motivos mas o sentido continua latejando sua fonte de luz para sempre. Impermanência.

Marin Marais foi músico de Luís XIV. Como músico oficial da corte do Rei Sol, criou uma música muito suave de entretenimento, própria para o ambiente de Versalhes. Ele tem peças lindíssimas e foi o responsável pelo enaltecimento da viola da gamba como instrumento solo. Há um filme belíssimo com Gerard Depardieu que trata da vida de Marin Marais: "Todas as manhãs do mundo". Por trás da figura popular e bem sucedida de Marais estava o misterioso e hermético Monsieur de Sainte Colombe. Considera-se tradicionalmente que Marais tenha estudado num certo ponto de sua vida com Sainte Colombe. Marais era na verdade um grande virtuose e precisava de pouca informação para seguir em frente. Procurei como um louco as músicas de Colombe, que julgava ser uma eminência parda de Marais, mas para mim, as melodias de Marin Marais têm uma poética que supera qualquer peça barroca. Assim como Chopin, que é pura poesia, não somente música.

Quanto à falta de eletricidade, foi uma experiência magnífica! Ouvi um pouco de música, pois havia bateria no computador. Mas foi só. O meu fogão é elétrico. Não pude tomar banho, cozinhar, fazer café, chá ou comer nada quente. Mihal, nossa proprietária, chamou-nos para uma sopa de lentilhas (as rosadas, que você tanto gosta) à hora do almoço. Mas quem acabou cozinhando em sua cozinha fui eu, senhor de todos os aventais: Lentilhas, batata, cebola e alho à beça, mandingas (páprica, cominho e tomilho) e linguiça defumada, que pega muito bem com lentilhas. Foram 25 horas sem energia. Meditei várias vezes durante o dia. O texto chamado Haikai foi escrito à luz de velas durante a noite e transcrito no dia seguinte. E Kailash, cujas contrações começaram a acontecer na quarta-feira veio logo em seguida, num parto dourado! Para os dez graus dentro de casa, nada que dois cachecóis, quatro camisetas, duas blusas, três calças e um gorro de lã não resolvessem. Ah! Três meias nos pés. Detalhe: fui para cama assim, como um temulento! Mamulengo em sábado de aleluia!
Chella, Jerusalém está um caos desde a última quinta. Só em Jerusalém seis mil residências estão sem energia. A neve forte acumulou-se nas árvores que não resistiram e cederam ao peso, caindo sobre fios de alta-tensão. Não há aulas até amanhã. As escolas estão fechadas. Andar nas ruas está mais perigoso, o gelo sedimentou-se e ficou mais escorregadio. Fui ao armazém agora à tarde para comprar leite e alguns legumes para assar uma galinha mas não havia quase nada. Parecia tempo de guerra, quando as provisões somem das prateleiras. E israelense é neura com precauções. Coisa de quem deve no cartório. Pra mim está tudo bem. Faço caipirinha com água e o que sobrou do meu limão siciliano e danço samba, se precisar! Nada como ter ginga de preto!
Fique com todo meu Amor! Saudades muitas. Seu no Dharma. C.








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