quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Prakash Ghorpade




Prakash Ghorpade

Prakash Ghorpade nasceu em Satara em 1956, mesmo ano em que Meher Baba sofreu um grave acidente automobilístico na estrada em direção a essa cidade.
Filho de camponeses, vindo de uma família de sete irmãos, caminhava seis quilômetros todos os dias para ir à escola. Ganhou sua vida como entregador de leite em Puna pela manhã e dirigindo depois um riquixá pelas ruas tortuosas e tumultuadas da cidade até tarde da noite.
Casou-se aos trinta anos com uma jovem e linda mulher de Ahmednagar e foi morar neste vilarejo porque a vida nesta região era mais confortável e próxima à sua essência de homem do campo.
Por conhecer bem Puna e Mumbai, Prakash logo começou a trabalhar como motorista para o Pilgrim Retreat buscando Baba Lovers no aeroporto e conduzindo-os aos lugares conectados com o advento de Meher Baba. Foi assim que Prakash aprimorou seu inglês e começou a se interessar pelo motivo que trazia pessoas de lugares tão distantes àquele lugar pouco comum para turismo.
Certa vez Prakash resolveu seguir as pessoas que trouxera ao Samadhi de Meher Baba. Por que não? Entrou respeitosamente na cripta coberta de lindos afrescos e circundada de um silêncio comovente por aqueles que a visitavam. Curvou-se perante o túmulo do Avatar, como todos faziam... Recebeu seu darshan.
Dias depois ele sonhou com Meher Baba. E foi então tomado de amor pelo Deus-Homem. A partir daí, segundo ele mesmo disse, sua existência mudou completamente.
Ele passou a ver toda sua vida conectada de alguma forma com as pistas e encruzilhadas que traçaram sua vida até Ahmednagar para o oceano do abraço de Baba.
Numa das muitas viagens a trabalho até Meherazad ele teve a chance de ser o motorista de Bal Natu. Elogiado pela forma atenta e zelosa como dirigia, Bal disse-lhe que seu ofício era uma forma de trabalho para Meher Baba e que assim ele deveria exercer sua atividade profissional. Sua esposa tornou-se uma devota, assim como seu filho de 22 anos.

Foi este homem delicado e bondoso que foi me buscar numa manhã cinzenta e chuvosa num hotel em Puna, em Bund Garden Road, a duas quadras de Guruprasad, local do último Darshan Público do Avatar Meher Baba. Este foi o primeiro choque para aquele domingo que abriria um sol de sorrisos em minha vida, deixando cair levemente apenas uma fina garoa a cada novo lugar que acabasse de visitar, como se fosse um afago num bicho de estimação, uma lembrança viva vinda diretamente do céu, tão azul agora como o deus Krishna.

Assim, senti-me na companhia de um mandali e procurava ver nos seus traços morenos de caboclo alguma semelhança entre as várias fotos dos discípulos que conhecia tão bem no meu coração ao longo de todos estes anos de espera...
Uma noite, ainda em Dharamsala, fomos, eu e Lily a um restaurante tibetano muito bom, dirigido a mãos de ferro por uma mulher que mais lembrava um ícone: Diki. Um lugar pequeno, com apenas seis mesas e uma comida excelente. Uma família de cinco pessoas sentara-se numa mesa diagonalmente oposta à nossa.
Para minha surpresa, a jovem senhora mãe dos três filhos educados e belos tinha o mesmo rosto de Mehera, excluindo-se o fato de seu estrabismo evidente mas que ricamente lhe proporcionava ao semblante uma expressão de humildade que me comovia de uma forma inexplicável e quieta. Olhar para ela era como ter Mehera diante de mim. O mesmo corte de cabelo, a mesma forma de rosto e a suavidade comovente das mulheres indianas...

Nosso primeiro destino foi Meherazad. Última residência física de Baba, a propriedade mantém a aura de sua presença vibrando pela casa em cada canto. Junto conosco, poucos visitantes estavam ali. Tinha minha câmera no bolso das calças mas proferir um flash dentro daquela casa seria um ultraje para meus próprios e íntimos sentimentos.
O quarto espartano de Baba, pintado de rosa e exalando uma atmosfera de amor como nunca antes vira diante de mim... A cozinha onde Baba fazia suas refeições, com Mehera à sua direita e Mani à esquerda, numa disposição semelhante aos túmulos que lhes reservou a vontade do Avatar junto ao seu Samadhi. O quarto que foi de Mani e Mehera, sua cama que me pediram não tocasse para manter a tradição de mantê-la imaculada de mãos masculinas e de cuja janela se via a árvore de Umar, onde milagrosamente o rosto de Baba surgiu meses depois de ele ter abandonado o corpo. O piso tem uma das lajotas próxima da janela gasta pelo tempo que Mehera permaneceu ali olhando seu Amado. O poder do Amor...
Muito tempo antes de partir, Baba, conversando com alguém junto a esta árvore, comentou que gostava muito dela. Mehera surpreendeu-se e perguntou-lhe o por quê. Para ela aquela árvore não era especialmente bonita, pelo contrário, até meio rudimentar e cheia de calosidades que lhe davam uma estranha forma encarquilhada. Baba respondeu apenas que um dia ela iria saber...
Depois de tanto tempo a forma de seu rosto desapareceu. Mas olhar esta velha árvore de Umar da janela do quarto que foi de Mehera era como estar em casa, a verdadeira casa para a qual sempre queremos voltar um dia.
Haveria a projeção de um filme no Mandali Hall, “You Alone Exist”. O irmão de Eruch estava presente. Uma delícia. Ver as imagens de Meher Baba em plena Meherazad! Só Deus mesmo pra ter tanta misericórdia...
Dia 3 de Agosto era aniversário de Dr. Goher, uma das quatro mulheres mandalis que seguiram Baba na New Life. E ela foi sua médica particular até o final, mesmo não querendo, tentando convencer Baba o tempo todo de que ele deveria procurar um especialista mais experiente. Ele não moveu uma palha a respeito.
Quando já estávamos partindo, uma surpresa digna de um banquete. Uma das adoráveis mulheres responsáveis por manter Meherazad veio em nossa direção com uma bacia cheia de mangas maduras. Ofereceu uma manga para cada um. Adivinhei antes que ela me contasse a história que já sabia em meu coração de Baba Lover:
Baba sempre foi muito atencioso e rigoroso com qualquer presente que um mast lhe oferecesse. Poderia ser uma pedra, um papel, o que fosse. Baba trataria do presente como de um tesouro. Um mast deu-lhe uma manga certa vez. Baba comeu, como sempre o fazia. O caroço foi plantado por uma das mandalis e transformou-se numa linda árvore! Que darshan! Comi minha manga com casca e tudo quando cheguei ao hotel. Doce, macia, carnuda... Guardei o caroço dela que hoje está no pequeno altar que tenho em casa com uma estátua linda de Padmasambhava que trouxe de Dharamsala.
Em nenhum momento é pedido que se pague por nada. Se alguém quiser oferecer alguma contribuição deve fazê-lo diretamente à Avatar Meher Baba Perpetual Public Charitable Trust, uma fundação criada pelo próprio Baba em 1959 para atender as várias necessidades dos peregrinos que viessem no futuro e criar meios de oferecer serviço em diferentes maneiras para a população, seja por hospitais, escolas, clínicas veterinárias etc. Mani Irani administrou esta organização por vinte anos, sendo substituída depois por Bhau Khalchuri.
Baba não quer de forma alguma que dinheiro seja feito em seu nome. É o Trust Office que mantém Meherazad, Meherabad e o Samadhi, assim como todos os outros lugares que estão relacionados à passagem do Avatar pela Terra.

Meherabad mantém-se impecável. No topo de sua colina foi construído o Meher Pilgrim Retreat, um lugar agradável e aconchegante que abriga os peregrinos que querem estar mais perto destes lugares sagrados. Tudo organizado. Um sistema de ônibus pertencentes à Trust faz visitas frequentes aos outros locais para quem estiver hospedado ali. Em tudo há ordem. Como sempre, homens de um lado e mulheres do outro. Os mandalis estão enterrados no cemitério em Meherabad. As mulheres, junto ao Samadhi. É possível ir na caminhada do Pilgrim Retreat até lá. Um simpático caminho foi construído. Ele não deixou nada por ser feito. Só cabe a nós continuar a amá-Lo.
Todo Amor. No Dharma. C.





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