Prakash Ghorpade
Prakash Ghorpade nasceu
em Satara em 1956, mesmo ano em que Meher Baba sofreu um grave
acidente automobilístico na estrada em direção a essa cidade.
Filho de camponeses, vindo de uma
família de sete irmãos, caminhava seis quilômetros todos os dias
para ir à escola. Ganhou sua vida como entregador de leite em Puna
pela manhã e dirigindo depois um riquixá pelas ruas tortuosas e
tumultuadas da cidade até tarde da noite.
Casou-se aos trinta anos
com uma jovem e linda mulher de Ahmednagar e foi morar neste vilarejo
porque a vida nesta região era mais confortável e próxima à sua
essência de homem do campo.
Por conhecer bem Puna e
Mumbai, Prakash logo começou a trabalhar como motorista para o
Pilgrim Retreat buscando Baba Lovers no aeroporto e conduzindo-os aos
lugares conectados com o advento de Meher Baba. Foi assim que Prakash
aprimorou seu inglês e começou a se interessar pelo motivo que
trazia pessoas de lugares tão distantes àquele lugar pouco comum
para turismo.
Certa vez Prakash
resolveu seguir as pessoas que trouxera ao Samadhi de Meher Baba. Por
que não? Entrou respeitosamente na cripta coberta de lindos afrescos
e circundada de um silêncio comovente por aqueles que a visitavam.
Curvou-se perante o túmulo do Avatar, como todos faziam... Recebeu
seu darshan.
Dias depois ele sonhou
com Meher Baba. E foi então tomado de amor pelo Deus-Homem. A partir
daí, segundo ele mesmo disse, sua existência mudou completamente.
Ele passou a ver toda sua
vida conectada de alguma forma com as pistas e encruzilhadas que
traçaram sua vida até Ahmednagar para o oceano do abraço de Baba.
Numa das muitas viagens a
trabalho até Meherazad ele teve a chance de ser o motorista de Bal
Natu. Elogiado pela forma atenta e zelosa como dirigia, Bal disse-lhe
que seu ofício era uma forma de trabalho para Meher Baba e que assim
ele deveria exercer sua atividade profissional. Sua esposa tornou-se
uma devota, assim como seu filho de 22 anos.
Foi este homem delicado e
bondoso que foi me buscar numa manhã cinzenta e chuvosa num hotel em
Puna, em Bund Garden Road, a duas quadras de Guruprasad, local do
último Darshan Público do Avatar Meher Baba. Este foi o primeiro
choque para aquele domingo que abriria um sol de sorrisos em minha
vida, deixando cair levemente apenas uma fina garoa a cada novo lugar
que acabasse de visitar, como se fosse um afago num bicho de
estimação, uma lembrança viva vinda diretamente do céu, tão azul
agora como o deus Krishna.
Assim, senti-me na
companhia de um mandali e procurava ver nos seus traços morenos de
caboclo alguma semelhança entre as várias fotos dos discípulos que
conhecia tão bem no meu coração ao longo de todos estes anos de
espera...
Uma noite, ainda em
Dharamsala, fomos, eu e Lily a um restaurante tibetano muito bom,
dirigido a mãos de ferro por uma mulher que mais lembrava um ícone:
Diki. Um lugar pequeno, com apenas seis mesas e uma comida excelente.
Uma família de cinco pessoas sentara-se numa mesa diagonalmente
oposta à nossa.
Para minha surpresa, a
jovem senhora mãe dos três filhos educados e belos tinha o mesmo
rosto de Mehera, excluindo-se o fato de seu estrabismo evidente mas
que ricamente lhe proporcionava ao semblante uma expressão de
humildade que me comovia de uma forma inexplicável e quieta. Olhar
para ela era como ter Mehera diante de mim. O mesmo corte de cabelo,
a mesma forma de rosto e a suavidade comovente das mulheres
indianas...
Nosso primeiro destino
foi Meherazad. Última residência física de Baba, a propriedade
mantém a aura de sua presença vibrando pela casa em cada canto.
Junto conosco, poucos visitantes estavam ali. Tinha minha câmera no
bolso das calças mas proferir um flash dentro daquela casa seria um
ultraje para meus próprios e íntimos sentimentos.
O quarto espartano de
Baba, pintado de rosa e exalando uma atmosfera de amor como nunca
antes vira diante de mim... A cozinha onde Baba fazia suas refeições,
com Mehera à sua direita e Mani à esquerda, numa disposição
semelhante aos túmulos que lhes reservou a vontade do Avatar junto
ao seu Samadhi. O quarto que foi de Mani e Mehera, sua cama que me
pediram não tocasse para manter a tradição de mantê-la imaculada
de mãos masculinas e de cuja janela se via a árvore de Umar, onde
milagrosamente o rosto de Baba surgiu meses depois de ele ter
abandonado o corpo. O piso tem uma das lajotas próxima da janela
gasta pelo tempo que Mehera permaneceu ali olhando seu Amado. O poder
do Amor...
Muito tempo antes de
partir, Baba, conversando com alguém junto a esta árvore, comentou
que gostava muito dela. Mehera surpreendeu-se e perguntou-lhe o por
quê. Para ela aquela árvore não era especialmente bonita, pelo
contrário, até meio rudimentar e cheia de calosidades que lhe davam
uma estranha forma encarquilhada. Baba respondeu apenas que um dia
ela iria saber...
Depois de tanto tempo a
forma de seu rosto desapareceu. Mas olhar esta velha árvore de Umar
da janela do quarto que foi de Mehera era como estar em casa, a
verdadeira casa para a qual sempre queremos voltar um dia.
Haveria a projeção de
um filme no Mandali Hall, “You Alone Exist”. O irmão de Eruch
estava presente. Uma delícia. Ver as imagens de Meher Baba em plena
Meherazad! Só Deus mesmo pra ter tanta misericórdia...
Dia 3 de Agosto era
aniversário de Dr. Goher, uma das quatro mulheres mandalis que
seguiram Baba na New Life. E ela foi sua médica particular até o
final, mesmo não querendo, tentando convencer Baba o tempo todo de
que ele deveria procurar um especialista mais experiente. Ele não
moveu uma palha a respeito.
Quando já estávamos
partindo, uma surpresa digna de um banquete. Uma das adoráveis
mulheres responsáveis por manter Meherazad veio em nossa direção
com uma bacia cheia de mangas maduras. Ofereceu uma manga para cada
um. Adivinhei antes que ela me contasse a história que já sabia em
meu coração de Baba Lover:
Baba sempre foi muito
atencioso e rigoroso com qualquer presente que um mast lhe
oferecesse. Poderia ser uma pedra, um papel, o que fosse. Baba
trataria do presente como de um tesouro. Um mast deu-lhe uma manga
certa vez. Baba comeu, como sempre o fazia. O caroço foi plantado
por uma das mandalis e transformou-se numa linda árvore! Que
darshan! Comi minha manga com casca e tudo quando cheguei ao hotel.
Doce, macia, carnuda... Guardei o caroço dela que hoje está no
pequeno altar que tenho em casa com uma estátua linda de
Padmasambhava que trouxe de Dharamsala.
Em nenhum momento é
pedido que se pague por nada. Se alguém quiser oferecer alguma
contribuição deve fazê-lo diretamente à Avatar Meher Baba
Perpetual Public Charitable Trust, uma fundação criada pelo próprio
Baba em 1959 para atender as várias necessidades dos peregrinos que
viessem no futuro e criar meios de oferecer serviço em diferentes
maneiras para a população, seja por hospitais, escolas, clínicas
veterinárias etc. Mani Irani administrou esta organização por
vinte anos, sendo substituída depois por Bhau Khalchuri.
Baba não quer de forma
alguma que dinheiro seja feito em seu nome. É o Trust Office que
mantém Meherazad, Meherabad e o Samadhi, assim como todos os outros
lugares que estão relacionados à passagem do Avatar pela Terra.
Meherabad mantém-se
impecável. No topo de sua colina foi construído o Meher Pilgrim
Retreat, um lugar agradável e aconchegante que abriga os peregrinos
que querem estar mais perto destes lugares sagrados. Tudo organizado.
Um sistema de ônibus pertencentes à Trust faz visitas frequentes
aos outros locais para quem estiver hospedado ali. Em tudo há ordem.
Como sempre, homens de um lado e mulheres do outro. Os mandalis estão
enterrados no cemitério em Meherabad. As mulheres, junto ao Samadhi.
É possível ir na caminhada do Pilgrim Retreat até lá. Um
simpático caminho foi construído. Ele não deixou nada por ser
feito. Só cabe a nós continuar a amá-Lo.
Todo Amor. No Dharma. C.
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