05.07.14
Querida J.
Reservei o sábado para
colocar minha correspondência em dia e sua carta é minha
prioridade. Quis muito ter enviado uma cópia da mensagem que redigi
ao I.B. mas soaria muito impessoal e estamos tratando aqui de
compartilhar individualmente nossas experiências.
Pensei estes dias em como
abordar tudo quanto gostaria de dividir com você deste material que
tenho trazido na alma tatuado a ferro e fogo.
Antes de mais nada quero
protestar contra a profunda saudade de você. Não há como deixar à
parte o grande detalhe. É notável como sem ruídos, séria e
sutilmente, estabelecemos este vínculo de amizade que atravessou fronteiras de tempo e espaço. E como tratamos de ser intencionais em
muitos momentos difíceis e aparentemente intransponíveis. Mas nós
o fizemos, J.! Com nosso mais alto senso de amor e cultivo à nossa tão nova amizade e ao mesmo tempo tão remota. Enigmas que vivemos
sem explicação. Tal é a febre de alma.
Mesmo a distância tem
feito crescer em mim sentimentos que amadurecem silenciosos nesta
árvore de vida que somos. Gostaria antes de mais nada, de agradecer
toda a ternura e amor incondicionais que tem transmitido nestes
poucos anos de convivência visível. Só o Logos sabe de onde
trouxemos todo esse material!
Muitas vezes, ver a mãe
que você é tem jogado focos de luz sobre minhas próprias
experiências com a peça que me deram. Há amigos que para nós são
eternos refletores neste palco de vida. A confiança emocional que deposito em
você não tem precedentes. E emoldurando tudo isto, ainda há o fato
sempre dourado de você ser a esposa de um grande amigo e mãe de
duas crianças que esperei anos a fio para ver virem à luz. Mas de
uma forma tão legítima que não passa exclusivamente por este
filtro divino, abrange ainda outros maiores e ainda desconhecidos significados, o que torna nossa amizade ainda mais inédita e
endeusada.
Por isto sempre
compartilho a mágica presente ao meu redor. É lei para meus olhos.
A luz não teria sentido se fosse vivida apenas pelo sol. E luz é o
que todos somos! As nuvens que o dia a dia oferece obscurecem vez ou
outra a afirmação mas a feliz companhia dos deuses termina por
varrer de todo qualquer resquício de breu quando nosso coração
cria condições propícias e abre campo para nosso propósito
embaixo deste mesmo sol.
Desde que encontrei nossa
escola, a existência passou a ter um significado maior e sublime.
Todas as respostas cegas que encontrara anteriormente através da
Arte, para mim sempre a maior referência e o que justificava minha
vida, tomaram um vulto secundário perante a compreensão que o
Trabalho trouxe. O próprio significado da Arte adquiriu um nível
objetivo e superior. Passei a compreender coisas que para mim antes
eram enigmas, como muitas passagens do Evangelho e mistérios que
estancavam no patamar do dogma, como a relação entre pessoas, que
sempre suspeitei seguirem uma regra nas entrelinhas e que a Teoria
dos Tipos tão bem elucida, assim como outros conhecimentos paralelos
como a Astrologia.
É a experiência pessoal
que está sendo relatada aqui, já que meu centro magnético foi
formado por Arte, Religião, Astrologia e drogas. Mas nunca tive
claro que buscava algo, ainda que minhas poesias tivessem falado de
busca o tempo todo. A alma lateja seus desejos íntimos sem que nos
apercebamos de sua voz em muitas expressões de nossa vida...
O trabalho que o Quarto
Caminho sinaliza é uma educação divina sobre as funções e que
nossa escola catalisou de uma forma muito especial, como talvez
nenhum outro grupo conectado a estas ideias tenha conseguido
realizar. Mas aqui também há um limite para outros níveis elevados
de consciência que a escola não tem definitivamente como fornecer
as ferramentas ou mesmo as saídas. A forma como alguns estudantes
cristalizam com a melhor das intenções mostra isto.
Quando encontrei esta
Meditação reconheci na expressão dela neste momento da história
da nossa civilização uma manifestação clara de Influência C. Uma
nova roupagem, numa diferente tradição, mas num sentido de urgência
como talvez aqueles que tiveram contato com Gurdjieff devem ter
sentido naquele momento em que o Quarto Caminho veio à tona no
ocidente mais uma vez.
Eu não costumo me
fascinar com mestres ou gurus, J., você sabe bem disso! Estar numa
máquina instintiva e lunar é carregar um ceticismo sempre de
plantão.
Mas vejo em D. B. não um
simples professor e sim, um Mestre. O que tenho vivido praticando
esses ensinamentos ter permeado minha vida de um sentido que julgava
não ressoar mais, desde o momento mágico em que encontrei a escola
há vinte e seis anos.
Há algo aqui, J.,
é tudo que posso afirmar sem nuvem alguma de dúvida. E novamente,
compartilhar esta luz encontrada com você é para mim algo precioso.
A chance de poder checar meu 'tratar' com alguém que é um veículo
deste ensinamento como D. B. é imperdível.
Devido ao seu trabalho de
tradução de textos até agora desconhecidos no ocidente e mesmo
dentro de algumas linhagens budistas, D. está pouco a pouco dando
mais prioridade a este outro papel que lhe foi oferecido. É muito
claro seu senso de prioridade, além de grande exemplo a ser seguido
em qualquer nível de ação como seu estudante.
Eu gostaria muito que
você pensasse na possibilidade de fazer este Retiro em algum país
que não fosse o Brasil. E que você o fizesse com o próprio D.
Ele ainda ministra o
Nível 1 em alguns lugares da sua agenda mas é algo que segundo ele
não estará mais ao alcance num futuro muito próximo.
Vejo que este trem pras
estrelas começa a acelerar seu ritmo e ficaria muito triste se você
e I.B. perdessem a oportunidade que ainda está ao alcance.
Ligo para você
nesta semana para conversarmos a respeito. A
correspondência ainda é limitada para poder expressar o coração
latejante.
Perdão se tenho sido
insistente ao ponto da inconveniência, mas o que me move aqui é meu
amor por você e por ele. E logicamente não posso ignorar seu livre
arbítrio.
E eu sei da sua sede em
tornar-se um ser humano melhor, J.! Este é o nosso ponto de
encontro, estou certo, aquele que tem contado desde sempre, talvez na
bagagem de outras tantas vidas que já compartilhamos como amigos.
Por favor, considere com carinho tudo o que lhe digo, minha doce e
querida amiga. Aqui está minha alma aberta oferecida a você neste
ponto de nossa existência diante da eternidade. Não há silêncio,
tudo vibra. Que dobrem os sinos do despertar! E que eles cantem a
favor de nossas almas!
Todo meu Amor. Sempre. No
Dharma. C.